quarta-feira, 28 de outubro de 2009
O Estado do caos
terça-feira, 20 de outubro de 2009
A hipocrisia está no ar
Estava assistindo a cobertura da ação criminosa no Rio de janeiro pela GloboNews e cheguei a ficar assustado. A hipocrisia e a capacidade de manipulação dessa gente é algo sem limites.
Antes de qualquer coisa vou fazer um histórico, pois históricos não mentem:
No início da década de 80, quanto nossas capitais viviam em relativa paz, o Jornal Nacional, da Globo, dava a cotação das drogas todos os dias. Não havia ainda o “problema” do tráfico, mas era só ligar a TV às 8 da noite para ouvir Cid Moreira dizendo que haviam sido apreendidos tantos quilos de cocaína em algum lugar que ninguém sabia onde era no valor de X dólares. Bastava fazer as contas para se ter a cotação do dia.
Paralelamente fomos inundados por filmes americanos que faziam apologia da violência da forma mais grotesca possível. O herói preferido da Globo era Charles Bronson no papel de um psicopata carniceiro que promovia todo tipo de violência e agressividade possível, mas haviam muitos outros filmes propagando a carnificina urbana. Centenas deles.
Foi nessa época também que a Globo nos brindou com uma minissérie chamada “Bandidos da falange”, estabelecendo os critérios para as organizações criminosas no Rio de janeiro e, poeteriormente, no Brasil.
Depois de criar na mídia o clima propício a super violência ancorada pelo tráfico de drogas, curiosamente, a coisa começou a acontecer no mundo real.
As pessoas mais sensatas já diziam, naquele tempo, que havia algo no ar além dos aviões de carreira. Não havia no Rio grandes produções nem de drogas, nem de armas. Como poderia haver tanta violência sem uma coordenação profissional e minuciosamente trabalhada?
O enfoque da mídia, no entanto, preferia regionalizar a discussão e procurar culpados nos Governos que não lhe eram subservientes, fazendo de Leonel Brizola, por exemplo, uma de suas principais vítimas.
O fato é que em cerca de 20 e poucos anos nossas capitais foram transformadas em verdadeiro território livre para a milionária indústria do tráfico de drogas e a imprensa, minimizando a questão, apontava sempre um ou outro gerente de boca rastaquera como o “inimigo nº
Quando, já em 2000 e pouco
Na verdade, durante todos esses anos a Globo insistia em cobrar das polícias estaduais o combate a um crime que é constitucionalmente federal, o tráfico de drogas.
Agora, no entanto, tendo um aliado seu sentado no Palácio Guanabara – Uma imagem de retórica, pois o Governador se dedica muito mais a Paris do que a seu assento no Palácio – a cobertura da Globo resolveu, deliberadamente, apagar toda a responsabilidade do Governador sobre os conflitos. Hipocrisia pura.
De repente o crime passou a ser atribuição Federal e os Governantes locais se tornaram “vítimas” do processo. Na concepção da Globo a cidade e o Estado vivem as mil maravilhas e o tráfico de drogas é apenas um “fato isolado” como disse hoje na GloboNews um jornalista cozinheiro cujo o nome me escapa.
O tráfico de drogas é , inequivocadamente, o grande mal da sociedade moderna e assola todas as grandes cidades do Brasil, apesar de ter feito muitos milionária nos últimos anos, e para combate-lo é preciso seriedade. Certamente não é com a política de segurança marqueteira do nosso (des)Governador viajante que o problema será minimizado.
A globo, antes de mais nada, deveria fazer uma auto crítica. Quem implanta e propaga um negócio extremamente rendoso, embora nocivo, perde qualquer moral para combate-lo, mesmo que este combate seja só de fachada. O que vemos na verdade é a hipocrisia e a má fé sendo propagada em cadeia nacional com o intuito de manipular as pessoas de bem. Antes de qualquer coisa, isso é uma covardia.
Vicente Portella
sábado, 17 de outubro de 2009
Política com P maiúsculo
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Porque Garotinho?
Estava conversando dia desses com um amigo sobre o cenário político brasileiro. Esse amigo militou comigo no velho PCBão e continua convicto até hoje, coerentemente, na defesa do ideário de Marx e Engel. Ele explicou que o processo político e as vicissitudes o levaram a militar no PSOL e quis saber o porquê da minha opção por Garotinho. Eu, claro, expliquei.
Todas as teses socialistas e de esquerda em geral foram devoradas por nós nas décadas de 60, 70 e 80 – no meu caso específico na década de 80 – e todas, posso garantir, são profundamente avançadas no que diz respeito à organização de uma sociedade mais fraterna e justa. Ocorre, no entanto, que praticamente nenhuma delas foi posta em prática, e, onde houve tentativas de aplicá-las, o fracasso foi inevitável.
Isso se da por vários motivos, mas o principal deles é a própria incapacidade humana, no nosso atual processo evolutivo, de acatar imposições ou fórmulas mágicas advindas de seres iluminados.
Na verdade o próprio Marx já previa que para que o socialismo fosse implantado seria necessário modificar a mentalidade do homem.
Não quero dizer com isso que o ser humano seja atrasado, muito pelo contrário. Creio que a humanidade precisa viver cada degrau de sua evolução de forma plena e ilimitada, mas para que isso ocorra é necessário compreender o espaço e o tempo em que estamos inseridos e buscar as soluções compatíveis para o momento.
Vários pensadores modernos questionam se a aplicação da teoria marxista
Posteriormente, na medida em que outras propostas socilizantes iam sendo testadas em outros países, a concepção ditatorial tornou-se mais importante e adquiriu um peso maior, na maioria dos casos, do que a própria concepção social inicialmente proposta por estas teses. Na prática houve a corrupção da ideologia, mesmo que isto não tenha ocorrido por ma fé, em função das dificuldades encontradas de “socializar” as idéias e fazer com que as pessoas às incorporassem.
O conceito socialista, portanto, continua plenamente válido, desde que seus condutores tenham a compreensão de que é preciso antes de qualquer coisa convencer a sociedade e o povo de que esta é a maneira mais correta de ordenamento social. Além disso, seria fundamental para qualquer desenvolvimento de um projeto socialista que as chamadas “esquerdas intelectualizadas” abrissem mão de sua prática secular de tentar pensar pelo povo e pretender tutelar a sociedade.
Na prática, nós, no Brasil e em vários outros países, vivemos uma realidade geral mais próxima da idade média do que da idade contemporânea. A maior parte do território nacional vive em condições precária de vida, sem os benefícios básicos da modernidade. No Rio de janeiro, por exemplo, as realidades da Barra da Tijuca e a da baixada Fluminense são tão díspares que caberiam muitos oceanos entre elas. Não há em nossas plagas nenhuma possibilidade concreta e imediata de universalização de serviços básicos, como saúde, habitação, educação ou cultura. Principalmente, sob o ponto de vista aqui abordado, em relação à Educação e Cultura.
Nada é mais óbvio do que a capacidade de formular e executar coletivamente para que uma sociedade se desenvolva, mas aos nossos povos até mesmo isso é negado. Exatamente por isso torna-se impossível a adoção pura e simples de conceitos acadêmicos considerados de ponta. A maioria de nossa sociedade vive ainda uma realidade pré moderna, e nosso povo, socialmente falando, está em um estágio anterior a isso.
Por outro lado, temos um povo infinitamente criativo e, porque não dizer, de inteligência privilegiada. Mesmo sem os benefícios da escolaridade, algo absolutamente necessário em qualquer sociedade, nossa população consegue formular e executar individualmente as soluções necessárias para os seus problemas do dia a dia. O cidadão comum, o trabalhador, a dona de casa, essas pessoas que compõem o povo brasileiro, sobrevivem em condições que seriam fatais a qualquer cidadão de primeiro mundo acostumado às facilidades oferecidas pela vida moderna em sociedades mais evoluídas.
Temos, portanto, características peculiares. E exatamente por isso creio profundamente nas soluções que passam pelo crivo do conjunto da população. Ao contrário do que se pensa só a contribuição direta do povo é capaz de conduzir nosso país a sua evolução.
Aliás, é bom que se diga, em seus primeiros 400 anos, praticamente, o Brasil foi governado sem povo. Só as elites tinham acesso ao poder e o direito ao voto era restrito aos senhores de terra. Até a ascensão de Getúlio Vargas, inclusive, nem a mulher tinha direito ao voto. Só depois da revolução de 30, liderada por Getúlio, foi instituído o direito ao voto universal e deram-se os primeiros passos em prol da organização dos trabalhadores.
Com base em tudo isso, desenvolvi meu conceito pessoal de que só a participação genuinamente popular pode colocar o Brasil no rumo necessário, e para tanto precisamos de líderes populares. Tenho a convicção que não nos basta uma organização unicamente composta por quadros políticos, há que haver também o povo, e para isso há que haver lideranças.
No decorrer de nossa história construímos o que há de melhor no Brasil assim, com lideranças populares. A própria resistência a ditadura só foi possível graças a atuação de lideranças populares. De um modo geral é possível afirmar que sem essas lideranças só o que resta é o elitismo, manipulando os fatos e conduzindo o Estado para a perpetuação de seus interesses particulares, quando na verdade é o povo e não as elites quem precisa da ação do Estado.
Por tudo isso, assim como muitos optaram por Getúlio no passado e eu próprio optei por Brizola à seu tempo, opto hoje pelo fortalecimento político e pela liderança de Anthony Garotinho.
Tenho a certeza plena de que no final das contas o povo será o principal responsável pela definitiva consolidação da nação brasileira.
E assim teremos uma cidadania de fato, baseada no respeito e na participação popular e não apenas na aquisição de bens de consumo.
Vicente Portella